quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Crónicas de um voo para a Madeira

6h30 - Chegada ao T2. Bem cedinho, mais ou menos 45 min. antes do necessário. Entidade parental sonolenta mas satisfeita, dever cumprido, não há nada como ser hiper-previdente e chegar hiper-adiantado.
Que tal um café? Eu não bebo mas tudo bem, serve para acompanhar a conversa.

Altura de despedidas e de voltar ao carro para apanhar a trouxa.
ALERTA: Polícia à vista e de volta da viatura, qual abutre aos círculos sobre a carcaça.

Parece que é proibido imobilizar a viatura naquele estacionamento (para que servirá aquele parque de estacionamento!?!). Ok, no T2 carro não estaciona, despeja e segue viagem (perdem os srs. dos cafés!).
Agente da autoridade: Pois não se pode parar aqui.
Entidade Parental: Desculpe sr. guarda, não sabia, como não havia mais nenhum sítio onde parar achei que era aqui que se podia estacionar.
Agente da autoridade: pode estacionar, é um parque de estacionamento, não pode é demorar. Já aqui está há meia hora. Ainda por cima tem o selo do seguro caducado.
Entidade Parental: Olhe não sabia, não sou eu quem costuma andar com a viatura. (toca de procurar os documentos actuais.)

O polícia espera e nós desesperamos porque o papel não aparece.
Agente da autoridade: A diferença agora é entre pagar 30€ ou 500€ de multa.
Entidade Parental: (glup!!!)

Telefonema da Entidade Parental 1 (presente no T2) para a entidade parental 2 (na cama a dormir!):
Entidade Parental 1: Olha queres pagar 30 ou 500€ de multa?(bastante delicado e simpático, salva-se a objectividade)
Entidade Parental 2: (se bem conheço já não dormiu nem mais 1 seg. nessa manhã!)
Entidade Parental 1: Tens o selo do carro caducado.
Entidade Parental 2: (já se levantou e já anda tipo barata tonta pela casa.)
Entidade Parental 1: Está em casa? Mas sabes, no carro é que isso faz falta! (obrigado, capitão óbvio!)
Entidade Parental 2: (de certeza que amaldiçoou ter cabeça de alho chocho)
Entidade Parental 1: Olha agora vamos lá ver no que isto dá. Até já.

De volta ao polícia:
Agente da autoridade: Para onde vai agora?
Entidade Parental 1: Para casa sr. guarda. Vim só deixar o meu filho aqui.
Agente da autoridade: Então siga lá com calma e rectifique esta situação.

Mala fora da bagageira. Despedida apressada e toca a andar que já nos livrámos de boa.

Volto a entrar no T2. Lá está a companhia para a viagem: bonita como sempre, friorenta e gelada como é normal.

Direcção: Checkin. Uma fila pequena mas duradoura
Bagagem de porão: nenhuma
Bagagem de mão: não cabem na estrutura que indica as dimensões máximas (mas passaram!).
Cartões de embarque na mão. Não há lugares marcados e pertencemos ao grupo B de acesso ao avião.

Next stop: Detector de metais
Fiscal: Coloque todos os pertences no cesto por favor. Sr. tem líquidos aí?
Eu: sim (acho que a minha bexiga também já se queixa do mesmo!)
Fiscal: Tire da mala e coloque também no cesto s.f.f..
Eu: (esta malta é mesmo paranóica!)
Cangalhada fora da mala, o detector não apita. Tudo arrumado e inspecção passada com distinção.

Conclusão: deixaram passar uma lâmina de barbear para dentro do avião! Paranóicos mas pouco atentos.

Vai um cafézinho? Ok (que seria deste mundo sem café? na volta ninguém se sentava a conversar!).Para mim um suminho de maça.

Porta de embarque: grande manada de gente numa fila desorganizada.

Lentamente passamos, tudo em ordem, siga para o autocarro da groundforce. Autocarro à pinha, só mexem os olhinhos, pelo menos até o condutor decidir radicalizar a sua condução. Curva à direita e a maralha toda a cair para a esquerda.

Bem chocalhados chegamos ao destino: avião da Easyjet, modelo... hum, tinha asas, motores e voava. Má opção de posicionamento no autocarro, somos quase os últimos a sair de lá e a chegar ao avião.

No topo da escada nova confirmação de bilhete e a parceira de voo fica retida. A mala excede as dimensões máximas da bagagem de mão. Bolas foi preciso chegar ao 4 controlo para se aperceberem do malão que ela trazia.
Esgueiro-me para arranjar 2 lugares.

Instalo os meus pertences e olho apreensivamente para a assistente de bordo espanhola e a sua refém. Finalmente liberta-a mas de má vontade, afinal de contas foram menos 18€ para o patronato.
A ex-refém instala-se ao meu lado e resmunga por os lugares serem ao lado da asa.

Umas placas na extremidade das asas mexem, devem ser os flaps (nos filmes é sempre o que chamam às coisas das asas que mexem!).

O piloto faz a sua primeira comunicação com os passageiros. Palavras de cortesia a que ninguém presta grande atenção.
Agora é a vez da assistente de bordo, a carcereira. Inglês macarrónico e mecanizado praticamente imperceptível, do qual apenas percebi que ela se chamava Maria.
Agora uma gravação de tradução para português. Voz suave e pausada.

Em seguida assistimos à já tradicional dança dos assistentes de bordo ao som de Maria. Bem coreografada, não muito síncrone mas efectivamente bela.

O pássaro mecânico já mexe e dirige-se para a pista. Faz agora parte de uma filinha pirilau de aviões prontos a levantar:
- um Sata... levanta
... aterra um TAP.
- um TAP... levanta
- Agora nós. A máquina acelera vigorosamente, levanta as rodinhas do chão e já está. Descolámos em direcção a este.
- a filinha atrás continua: um TAP, outro TAP e finalmente um PGA.

Espreitamos pela janela, agora com "imagens do google earth" da cidade de Lisboa. Observámos o Tejo, um afluente (que penso ser o Trancão), as salinas, o estuário, a cidade desordenada e algumas praias da margem sul (do deserto portanto!).

2ª intervenção macarrónica da Maria:
Maria: ... (hã?o quê?)... (Ah ok, é qualquer coisa a ver com a comida.)
Estava certo, aí vêm os carrinhos repletos de iguarias bem vulgares a preços muito invulgares.
O João Pestana aparece de soslaio e os ouvidos estalam de descontentamento; a ex-refém agarra-se às revistas grátis.

Os assistentes de bordo, quais formigas num carreiro, andam rapidamente para trás e para a frente. De saco na mão um pede a "basura".
Os ouvidos estalam.

Nova intervenção, desta vez de um colega da Maria, igualmente macarrónica:
Colega da Maria:... comprar... fancas (hã? comprar o quê?)
Calma! Agora ele vai explicar em português ou melhor, vai arranhar qualquer coisa na língua de Camões.
Valeu o esforço e deu para perceber que "fancas" são algo do género de raspadinhas, que naquele caso tinham também um propósito de beneficência (ou não, mas foi o que percebi!).

As formigas agitam-se no seu carreiro e a maralha junta-se-lhe num frenesim de "vontadinha". Os olhos piscam sonolentos.

Maria de novo agarrada ao microfone (bolas, ninguém vai dormir neste voo!):
Maria: ... gift shop... "toyis" for the little ones... "acept" Euros... thank you very much!
Já se vai apanhando alguma coisa, mas de mim se há coisa que não apanham é euros.

O joão pestana não me chama só a mim. Um ombro e braço roubados em troca de um beijo. Não foi mau mas da próxima talvez dê para negociar melhor a quantidade da contrapartida.
Os ouvidos serenam; fecho os olhos.

Nova comunicação do piloto:
Comandante: bla, bla, bla, bla
Importante a reter: aterramos dentro de 30 min. Os olhos voltam a ceder.

Olho para o WC e espero a minha oportunidade de pacificar a bexiga e dar cabo da "vontadinha". Está livre, aqui vou eu.
Um tudo nada apertado... PIM!!! Acende-se a luz de apertar os cintos. Boa, vamos aterrar e eu agarrado à pia.
Bexiga satisfeita dirijo-me ao lugar. Lugar ao lado vazio, há mais alguém que foi apanhado com as calças na mão pelo PIM!!!

Instalo-me, aperto o cinto e preparo-me para avistar a ilha. A coleguinha de voo chega.
Os meus ouvidos começam novamente a rezingar, ou seja, estamos a descer e bem.
As formigas aumentam o ritmo e ultimam pormenores.

Ilha à vista. Passamos por cima da Ponta de S. Lourenço, mais ou menos em direcção à baía do Funchal. Uma voltinha e estamos alinhados para aterrar.
Entretanto já tivemos o prazer de ver o aeroporto do Funchal e a sua magnífica proximidade com o mar.
Os ouvidos também aumentam o ritmo.

O pássaro até aqui tão sereno agita-se; as asas abanam, a cauda abana, todo ele oscila. A voltinha revela-se preocupantemente atribulada e pouco reconfortante dadas as condições da pista.
Agora já em direcção ao aeroporto a agitação diminui, mas o frio na barriga não.

A ave atira-se à pista, não há formigas no carreiro, toca no chão, os ouvidos estalam, sente-se uma forte e brusca travagem, o avião abranda até que se imobiliza completamente. A multidão aliviada sorri (pelo menos falo por mim!).

O comandante agradece a nossa preferência pela sua companhia aérea e deseja-nos uma boa estadia.
A maralha agradece ao comandante, ao piloto, à Maria, ao pássaro, aos colegas da Maria, a todos menos ao vento que não quis colaborar com o sossego da viagem.
Os meus ouvidos amaldiçoam-me.

Aguardamos um pouco para que uma parte da turba abandone a gentil ave que nos transportou; recolhemos os tarecos; cumprimentamos a Maria; descemos a escada e pisamos o magnífico solo madeirense, terra de Sua Alteza Dr. Alberto João Jardim.

O sol queima-nos a cara e aquece-nos o corpo; sol não falta, veremos o que mais tem esta ilha para oferecer!

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá coleguinha de viagem,

É de louvar tal descrição tão promenorizada, contudo noto algumas incongruências e incorreções no relato de um voo para a Madeira.

Primeiro a minha temperatura corporal é perfeitamente normal não sou como uns e outros que andam de calções o ano inteiro!

Segundo, não era um malão mas sim uma malinha com capacidade de evoluir para um estadio de obesidade mórbida!

Terceiro, muitos parabens pelo excelente blogue. Espero fazer muitas mais viajens com um companheiro assim tão querido e bem disposto.

Fico à espera de outros episódios marcantes lá por terras do Ti Alberto!

Beijinhos

:)