terça-feira, 24 de março de 2009

Slumdog Millionaire

Começando por dizer que gostei de o ver e que o acho um óptimo filme, também acho que tanto prémio e tanto louvor me parecem francamente exagerados. De salientar que, a opção inicial de lançar este filme directamente para o mercado de DVD's teria sido um erro enorme, ainda bem que assim não foi e que pudemos apreciar esta boa película nas nossas salas de cinema.

A forma de contar a história é muito original e foi bem conseguida ao longo de todo o filme, captando sempre a atenção do espectador. Mas se isto é verdade, também o é que o enredo tem uma base bastante tradicional e de certa forma até banal; o miúdo pobre que no fim acaba rico e com o amor da vida. Talvez por isso tenha ganho tantos prémios, pois encaixa bem no perfil que Hollywood gosta de premiar.

Para um filme que supostamente tenta mostrar o lado sujo e desumano da Índia, houve demasiada "limpeza" da realidade indiana, está demasiado polida. E é aqui que o filme mais me incomoda, a realidade mais dura e crua da Índia é escondida, o que torna o filme de certa forma um pouco desonesto.
Para além disto, o filme actua apenas como um espelho onde se reflecte a miséria e a degradação humana mas nunca se percebe o que está na sua génese, nunca é interpretada ou percepcionada
(se calhar também não era esse o objectivo!), apenas passa pelos ecrãs. Imagens de miséria, fome, pessoas que abusam e usam crianças e criminosos com sede de poder, infelizmente, com maior ou menor grau de impacto visual, existem em todos os países do mundo. Estes problemas na Índia tem raízes culturais e sociais muito grandes e, é na mentalidade e na aceitação de determinadas condições de vida que residem os principais problemas, situações que durante o filme não são bem exploradas apesar das imagens. Teria sido excelente ir um pouco mais além das imagens, ter mostrado um pouco da essência de tudo o que é mostrado... mas se calhar também não era esse o objectivo!

Outra coisa de que não gostei particularmente foi do final, o bem vence o mal perece e bla bla bla... Acho que este final retira algum do valor do filme porque o desadequa da realidade. O mundo não é preto e branco, tem vários tons de cinzento, e as histórias de felicidade total e completa são tão raras como muitos fenómenos cósmicos.
Claro que isto não passa de opinião pessoal, mas pintar o mundo cor-de-rosa para mim não é particularmente interessante.
Como contraponto, recomendo o visionamento de Born Into Brothels, um documentário muito interessante sobre a vida de miúdos filhos de prostitutas na Índia.

Este filme foi o justo vencedor de algumas categorias nos óscares (outras nem por isso!) e
Danny Boyle teve neste filme o reconhecimento que faltou em Trainspotting. Um filme que vale a pena ver porque apesar de tudo é muito bom, porque tem a capacidade de prender o espectador ao ecrã e para muitos será uma boa fonte de inspiração, para que possam sorrir perante as dificuldades da vida.


Slumdog Millionaire - Danny Boyle (2008)

P.S.: O que é que foi aquela cantoria e dança no final? Menos mal que foi nos créditos finais e não interfere em nada com o filme, mas lá que foi uma parvoíce isso foi.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Milk

Milk é um excelente biopic sobre a vida de um homem que soube ser um cidadão de plenos direitos como poucos o ousaram ser. Harvey Milk foi o primeiro cidadão americano assumidamente homossexual a ser eleito para um cargo governativo público.
Durante o filme, fica a convicção de que Harvey era alguém com uma mentalidade avançada para o seu tempo. Dotado de uma inteligência e capacidade argumentativa ímpar, das quais nunca fazia uso por rancor ou vingança, utilizava-a de forma perspicaz e sempre com algum humor; algo que fica bem patente nas cenas dos debates. Aliás, nestas cenas, a argumentação utilizada por Harvey é de tal forma bem construida e adequada que se torna irrefutável por argumentos que venham do campo da razão com a premissa da igualdade de direitos.

Gus Van Sant decidiu cruzar imagens de arquivo com cenas filmadas dando um aspecto documental ao filme, mas estas nunca surgem de forma forçada ou desadequada. A integração e utilização das imagens reais imprime força e veracidade ao filme.

Sean Penn aparece num registo brilhante e, na minha opinião de leigo interessado, merecedor do óscar. O trabalho de Penn é excelente pois durante o visionamento apenas percepcionamos Harvey Milk. Tudo foi trabalhado ao pormenor (voz, tiques, postura, etc) até que o actor desaparecesse completamente no personagem.
De salientar ainda o trabalho do restante elenco que não destoa do trabalho do actor principal. Emile Hirsch, protagonista daquele que foi para mim
o melhor filme a estrear em 2008 (Into The Wild), volta a ter um bom desempenho, bem como Josh Brolin, que ultimamente prima por participar sempre em filmes interessantes.

Um filme com um tema tão actual e importante, que divide a sociedade civil em qualquer parte do mundo, gera sempre controvérsia e este não foi excepção. Milk não escapou às manifestações de repúdio e até na passadeira vermelha da cerimónia dos óscares houves protestos. Curiosamente, na sala de cinema a que fui houve um sr. de meia idade que não se absteve de fazer alguns comentários plenos de intolerância e preconceito.
Sinceramente não consigo compreender por que é que as pessoas não respeitam o direito à diferença. Se a sociedade aprendesse a respeitar as opções individuais de cada um certamente que todos seríamos pessoas mais felizes e educadas.

Este é um daqueles filmes que todos devem ver, mais que não seja porque é um grande trabalho de um actor e porque mostra aquilo que uma sociedade participativa e interveniente pode conseguir.


Milk -
Gus Van Sant (2008)

segunda-feira, 16 de março de 2009

The Boy in The Striped Pyjamas

Ora aqui vai mais um filme que tem como pano de fundo a 2ª guerra mundial e o holocausto. A história centra-se no dia-à-dia de um filho de um coronel nazi responsável por um campo de concentração, que a dado momento se torna amigo de um menino judeu preso nesse mesmo campo.
Esta amizade torna-se o motor da história, é ela que conduz todas as personagens até ao final.

Curiosamente este é mais um filme que não cede à tentação facilitista de impressionar pelas imagens, não mostra grandes imagens do campo de concentração, nem de grande violência gráfica. O filme é bastante súbtil sendo a violência sempre resultado da razão e não da observação.

Se tivesse de caracterizar o filme em poucas palavras diria que é "o despertar da razão" pois é esse o caminho que o filme percorre.

Apesar de não ser um filme genial tem um final muitíssimo bem conseguido. O realizador consegue fazer coincidir o final do filme com o clímax da história, e tudo isto sem o colar à tradicional realidade cinematográfica, o final é mundano e verosímil.
Á conta deste final, enquanto saía da sala e o revia na minha cabeça, fiquei literalmente arrepiado da cabeça aos pés ao cruzar a porta do cinema.


Vicky Cristina Barcelona

Confesso que não conheço muito sobre a filmografia de Woody Allen mas, depois deste filme acho que quero passar a conhecer, são 96 min de óptimo entretenimento e boa disposição.

Esta comédia louca e divertida está repleta de bons actores. Javier Bardem (Juan) aparece transfigurado, depois de Anton Chigurh o impiedoso vilão de No Country for Old Men, agora interpreta o papel de um artista plástico catalão, um mulherengo despreocupado com uma irascível ex-mulher. Scarlett Johansson (Cristina) é uma americana que vive para as paixões e para aproveitar a vida, e que ao visitar Barcelona acaba por fazer parte dum triângulo amoroso deveras complexo. Rebecca Hall (Vicky) é a outra americana que está de visita a Barcelona, esta por oposição à sua amiga Cristina, acredita no amor e na estabilidade e tenta escapar aos avanços libidinosos de Juan. Finalmente, Penélope Cruz (Maria Elena), o sal deste filme (sal mas pouco que isto agora tem regras!), é a ex-mulher de Juan: desiquilibrada, louca, genial e muito sensual.

O desempenho neste filme valeu a Penélope Cruz o óscar de melhor actriz secundária, que quanto a mim, que não vi os filmes de todas as nomeadas, me parece ser merecido. A constante alternância de idioma, de disposição, de estado de espírito e quase de personalidade que ela imprime à personagem é fenomenal.
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De salientar ainda a deliciosa e cuidada banda sonora deste filme, uma verdadeira pérola que complementa e compõe na perfeição toda a acção.

E já agora, querendo eu entrar no universo Alleniano o que é que me recomendam?
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Gone Baby Gone

Este filme, cuja estreia no Reino Unido foi adiada devido às várias semelhanças com o caso Maddie (incluindo a mini-actriz que interpreta o papel da criança raptada!), surpreendeu-me pela positiva. Ao contrário da telenovela de imprensa em Portugal, este filme é bom, é um daqueles que nos prende ao ecrã até ao último instante.

Vale a pena ver até pela boa performance de Casey Affleck que, dirigido pelo irmão, mostra que talvez venha a ser o melhor actor dos manos. Quanto a Ben Affleck quer-me parecer que caso a carreira de actor não funcione, poderá ter futuro como realizador.

Um bom filme, que nos interpela e deixa a pensar: E eu, que escolheria? que decisão tomaria? Afinal que futuro lhe preferiria oferecer?


Gone Baby Gone - Ben Affleck (2007)

domingo, 15 de março de 2009

Muitos Parabéns Florzinha!!!

Beijinhos

P.S.: E o que é que isto tem a ver com cinema? Nada, mas há que mimar as pessoas especiais nas alturas importantes!

sábado, 7 de março de 2009

Dan in Real Life

Uma recomendação do Tio Markl deve ser levada a sério e, quando ele diz que este é um dos melhores 20 filmes de 2008 não está a brincar. Ora eu não chego a tanto (e quem sou eu!), mas lá que gostei e muito de ver esta comédia romântica, gostei sim sr.!

Um filme açucarado (mas não meloso), inteligente e com óptimos apontamentos de comédia.

Com Steve Carrel a interpretar o papel de pai viúvo muito desajeitado com dificuldades em ultrapassar a morte da esposa e entender as 3 filhas, e, Juliete Binoche a espalhar charme e a ser o centro das atenções e confusões no seio da família, isto só podia resultar num filme muito bom.

Desde 2008 até agora já vi 3 bons filmes com Binoche, o último foi L'Heure d'été sobre o qual poderão ler aqui. Não há dúvida que a Sra. os sabe escolher e que o tempo tem sido generoso com ela pois contínua lindíssima.


Changeling

O mestre Eastwood não falha e mais uma vez realiza um grande filme que, injustamente foi quase ignorado nos óscares, podia por exemplo substituir muito bem o Curious Case of Benjamin Button na nomeação para melhor filme.

Filme duro, e até chocante, sobretudo por ser baseado em factos reais. A miríade de acontecimentos que se vão sucedendo são a todos os títulos surreais.

Filme com cenários e enquadramentos históricos que me parecem ser muito bons e, com Angelina Jolie a merecer grande destaque pela forma convincente como interpreta a mãe desesperada.

Não recomendo o visionamento a mamãs com filhos de tenra idade, sob pena de os cachopos começarem a ficar sob vigilância apertada ou então trancados às sete chaves sem ver a luz do dia.


Valkyrie

Este filme teve vários problemas durante a filmagem, a produção e a sua estreia acabou por ser adiada inúmeras vezes. Não estreou a tempo dos óscares e não fez falta porque é um filme morno, sem chama que nunca consegue prender o espectador ao ecrã.

A temática é interessante e as expectativas eram elevados mas o resultado é um filme "sensaborão" e decepcionante.

Tom Cruise interpreta um personagem forte, bem caracterizado e estilizado, que parece quase um "alien" no meio do filme. Depois do excelente pequeno papel em Trophic Thunder, Cruise volta a não desiludir. Não sei se é dos desvarios da cientologia, da Katie Holmes ou simplesmente da idade mas o que é certo é que as suas prestações e escolha de filmes tem vindo a melhorar.


Valkyrie - Bryan Singer (2008)


P.S.: Obrigado ao amigo Poli pela companhia.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Defiance

Bom filme baseado numa histórica verídica que nos dá a conhecer mais uma das muitas histórias de heróis incógnitos da 2ª guerra mundial, a dos irmãos Bielski na Bielo-Rússia.

Filme que coloca o ónus da acção na vida da floresta, evitando assim o lugar comum de mostrar as típicas imagens da 2ª Guerra Mundial.

Filme que conta com Daniel Craig no elenco a interpretar o papel de Tuvia Bielski, registo que não difere muito do típico durão a que o actual 007 nos tem habituado.

Dispensava-se a constante troca de idiomas e os sotaques forçados, se o filme não fosse falado em inglês seria igualmente bom.



P.S.: Obrigado Sofia pela companhia.

Os melhores de 2008

Ora aqui vai a minha lista dos melhores filmes estreados em Portugal em 2008 (isto com base nesta lista!) e tendo em conta que vi mais de 80 dos 235 filmes estreados nesse ano.

1º - Into the Wild
2º - WALL.E

3º - Darjeeling Limited
4º - The Dark Knight
5º - Juno
6º - Persépolis

7º - The Will Be Blood
8º - La Graine et le Mulet
9º - Atonement
10º - A Turma


Devo dizer que, após ter tentado fazer esta lista 3 vezes obtive sempre os mesmos 12 filmes (a acrescentar: Sweeney Todd - The Demon Barber of Fleet Street e Gomorra) e que, nem sempre esta foi a ordem em que ficaram. Assim sendo, a ordem destes 10 filmes é pouco importante pois facilmente a alteraria.

Tirando os filmes pastilha elástica e blockbusters pipoqueiros que tenho pouco interesse em ver (apesar de também ter visto alguns!), acho que vi uma porção bastante satisfatória dos bons filmes de 2007.
Como tal deixo aqui mais 20 títulos, por ordem de estreia, de que gostei muito, perfazendo os melhores 30 do ano:


- Charlie Wilson`s War
- Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street
- Gone Baby Gone
- Michael Clayton
- No Country For Old Men
- The Counterfeiters
- Sukkar Banat
- I`m Not There
- My Blueberry Nights
- Mio fratello è figlio unico
- Kung Fu Panda
- Aquele Querido Mês de Agosto (o melhor filme português do ano)
- Before the Devil Knows You`re Dead - Gomorra
- Bienvenue chez les Ch`tis
- Tropic Thunder
- In Bruges
- Blindness
- Son of Rambow
- Australia

Ok, eu sei que já é um exagero, mas como poder de síntese está de folga se puderem vejam também estes:
- 3:10 to Yuma
- In the Valley of Elah
- Burn After Reading
- The Air I Breathe
- Cloverfield

- Auf der anderen Seite
- Paris
- Tropa de Elite
- Dan in Real Life

Para finalizar saliento 2 filmes que injustamente não estrearam nas salas de cinema, estrearam apenas na minha sala. Estes 2 filmes mereciam ter estreado em Portugal pois são muito melhores do que algumas porcarias que tive a infelicidade de ver:
-Once
-Be Kind Rewind

Óscares - O Rescaldo

Pela primeira vez vi a cerimónia na sua totalidade e acompanhado de uns amigos. Quer-me parecer que este ano a cerimónia foi diferente e para melhor, ainda assim continua a ser excessivamente longa (e este ano até foi encurtada!).

Os meus prognósticos não estiveram mal, entre quem eu achava que ía ganhar e quem eu achava que merecia a coisa foi-se resolvendo, à excepção do filme estrangeiro que esse sim foi uma total surpresa.

Escolhi esta foto porque acho que este filme foi um dos mais injustiçados do ano. Um filme soberbo repleto de pormenores sublimes e mensagens importantes que passou ao lado dos vários prémios e, em Portugal, nem êxito de bilheteira foi (lançado a meio de Agosto seria de esperar!).

Para a malta que comigo viu os óscares e, que entrou no pequeno jogo de apostas que fizemos, aqui ficam os resultados oficiais:
G.D. - 15/24
M.F. - 12/24
R.T. - 10/24
M.F - 8/24
J.V. - 6/24
A.P. - 5/24
P.L. - 3/24

O prémio foi uma caixinha de ovos moles cuja intenção é ser dividida por todos... o 2º, 6º e 7º têm ainda de vir reclamar o seu prémio, e com alguma brevidade senão "desaparecem".

Um agradecimento especial à anfitriã e mestre de cerimónias que tão bem nos recebeu e brindou com uns petiscos. Obrigado Florzinha!