quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Notícia Curiosa

Saiu já quase há um mês, uma notícia que guardei para que, quando tivesse tempo escrevesse sobre ela. Esta é sobre os comentários de um ex-ministro adjunto do guterrismo acerca da balda generalizada dos deputados da assembleia da república (AR) numa 6ª-feira no início de Dezembro.

A notícia é maioritariamente composta por citações retiradas do blog de António José Seguro, pérolas essas que tentaremos interpretar e comentar.

O título da Notícia era "António José Seguro: "percepção de que os deputados são absentistas adensou-se"".
Discordo, toda gente sabe, e agora até pode ver, que aquela malta não falta ao seu trabalho, levam o jornaleco ou então dormem um soninho que faz sempre bem. Absentistas não, inúteis é provável.

Ele prossegue: “Entre Setembro de 2007 e Julho de 2008, a percentagem de faltas, justificadas e injustificadas, dos Deputados foi inferior a 9%, nas 109 reuniões plenárias efectuadas”.
Fantástico, qualquer empregador sonha em ter pessoas tão empenhadas. Ora vejamos, imaginemos que temos 100 deputados:

109 x 100= 10900 x 9%= 981 faltas

Primeiro, destaco o “elevadissímo” número de reuniões que ocorreram em 11 meses. De facto não se pode chamá-los de absentistas, se fossem 100 (não nos podemos esquecer que são mais do dobro!), em 11 meses, só se teriam baldado 981 vezes. Ok, algumas serão justificadas, mais que não seja à posteriori depois de estalar o verniz. Cá para mim, se fosse patrão deles dava-lhes um aumento.

Mais adiante, “Ora, os deputados ausentes (alguns em trabalho parlamentar) das votações correspondem a cerca de 20 por cento dos parlamentares. Pergunto: pode o Parlamento português ser prejudicado por causa de, no máximo, um quinto dos seus membros? A resposta é obviamente que não".
Obviamente? Esta malta é muito à frente.
Ora então eu só devo pedir contas a cada um dos deputados, ou será que também um correcto funcionamento da AR deveria impedir este tipo de acontecimentos? Será que já todos se esqueceram da balda generalizada aquando da viagem a Sevilha para ver um jogo de futebol? E já agora qual é a percentagem a partir da qual o Parlamento Português pode ser prejudicado? Uma coisa é certa, para o vosso empregador, nós, uma balda é o suficiente para nos sentirmos lesados.

Numa empresa com 1000 trabalhadores, se um dia faltarem 200 e noutro 100 e noutro 150, e nada lhes acontece, será isso um problema só desses trabalhadores ou haverá aqui alguma coisa na empresa que não está bem? Cá me parece que também a estes lhes daria um aumentozinho pelos bons serviços prestados.

Prosseguindo, "a responsabilidade não é do Parlamento, mas sim de cada um dos deputados que faltaram injustificadamente à votação".
Pois, cada um é responsável pelos seus actos, mas também me parece que deva ser dever da AR (ou do governo!) verificar quem cumpre com os seus deveres e tomar medidas contra quem não cumpre evitando passar a imagem de balda generalizada.

Para mim, o mais grave disto tudo é que, salvo honrosas excepções, todos os partidos se viram envolvidos nesta balda o que é bem o reflexo do estado da classe política em Portugal.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Lisbon Film Orchestra

Como podem ver aqui no bilhetinho, no dia 20 de Dezembro de 2008, tive o imenso prazer de entrar pela primeira vez no cinema S. Jorge e logo para ver algo que acredito que irá ficar gravado na minha memória para sempre (ou então até quando me der um ataque de alzheimer!).

Em relação à sala de cinema e ao edifício em si, confesso que, apesar de saber que era grande e imponente não esperava uma sala para mais de 800 pessoas (a rebentar pelas costuras no caso!) e de um edifício tão bonito em termos arquitectónicos (e que percebo eu disso? nada! mas os olhos acharam-no bonito e "prontos"!).

Em relação à orquestra, e ao espectáculo que executaram, posso dizer que foi absolutamente fantástico, um momento sublime que me deixou extasiado com tantas e tão boas mémorias que me proporcionou. Para além disto, há ainda que realçar o carácter estético de ver cerca de 80 músicos em movimentos que quase parecem coreografados.

A "Lisbon Film Orchestra" brindou-nos com 14 temas, mais um do que o previsto no programa e repetindo no final um dos temas já tocados. A ideia de fazer passar imagens e falas dos filmes antes da música começar é brilhante e faz a ponte de ligação do cinema para a orquestra.

Os temas Superman March (Superman, 1978), Raiders March (Raiders of the Lost Ark, 1981), Adventures on Earth (E.T., 1982), Imperial March (Star Wars, 1977) e Somewhere in My Memory (Home Alone, 1990) trouxeram à memória tantos serões, tardes e manhãs de infância, tantas brincadeiras e diversões, tantos momentos bem passados que quase me sentia de novo criança.

A lúgubre música do filme Schindler's List, na qual um violinista executou um solo de forma magistral, foi a menos condizente com a quadra natalícia mas ainda assim lindíssima e muito aplaudida.

As Músicas de Harry Potter's, Lord of The Rings, Pirates of the Caribbean e The Chronicles of Narnia não fazem parte do imaginário de infância e, alguns destes filmes nem são particularmente especiais mas, as suas bandas sonoras são ainda assim grandiosas. Destaque para a dos piratas que teve direito a "bis" graças aos insistentes aplausos do público.

Engraçado foi ouvir a banda sonora de Polar Express, filme que já vi e que não sendo nada de especial foi, segundo me constou, um marco no cinema digital de animação. Como adepto confesso do natal que sou, gostei muitíssimo deste tema, foi como se o natal e os seus sons tivessem acabado de chegar a Lisboa.

Este foi sem dúvida um dos serões mais bem passados de 2008, e caso este espectáculo volte em 2009 lá estarei para me deliciar com mais bandas sonoras de fazer sonhar miúdos e graúdos.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Bolt

Ora aqui está mais um comentário a um filme de animação. Tendo confessado a minha adoração pelo género da animação vou tentar ser um pouco mais objectivo.

O filme conta a história de um cãozinho que é criado exclusivamente num ambiente de série televisiva, não conhecendo outra realidade, e que por isso acha que é um super-cão. Ora, quando esta criatura um dia foge, embarca numa aventura repleta de peripécias engraçadas nas quais acaba por conhecer outras 2 criaturas muito particulares.

Apesar de ter gostado, sinceramente esperava um pouco mais deste filme, não tem muito de empolgante e também não trás nada de novo ao género. Assim, recomenda-se a quem gosta de animação pois o divertimento e a boa disposição estarão garantidos mas, para o comum dos mortais não me parece seja muito interessante.

Para mim houve ainda 2 aliciantes, um deles é o facto de ter uma pequena "Bolt-a" que se passeia aqui por casa e que, à parte dos mais variados disparates que faz quando a deixamos sozinha, é de facto uma criatura adorável. Assim, posso assegurar-vos que o comportamento do cão foi estudado ao milímetro e que, muitas das cenas de "cão normal" me levaram a pensar que estaria em casa.

Outro aliciante que me motivou para ir ao cinema ver este filme foi o facto de estar disponível em 3D, e devo dizer que também isso me desiludiu um pouco. Houve de facto uma cena com um spray que parecia que nos ia atingir, mas de resto foi quase como ver um filme normal em 2D, nada de especial.

Tendo em conta que paguei mais 1,50€ pela sessão, não me sinto lá muito recompensado, nem mesmo com estes óculos tão bonitos que agora figuram numa prateleira cá de casa.


Nota de Agradecimento

Serve este post para agradecer à nossa cicerone madeirense.

Querida "sherpa" um obrigado tamanho XXXXXL por toda a disponibilidade e simpatia com que nos recebeste e guiaste pela ilha e seus meandros. Em especial (sobretudo no meu caso!), obrigado pela paciência em nos aturares e acederes a todos os nossos pedidos e insistências em ir aqui, ali e acolá.

Finalmente, "muchas gracias" pois sem ti esta experiência seria muito mais difícil de se concretizar e, seguramente não teria sido tão enriquecedora.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Fotoresumo de uma estadia na Madeira

Primeiro foto de um vasto conjunto: Cristo-Rei do Garajau. Nota para a falta de originalidade, Portugal e Brasil já tinham a Madeira também quis.



Uma bela praia na zona do Garajau onde teria apreciado dar uns mergulhos tivesse eu tido essa oportunidade. Com uma lupa talvez consigam ver o indivíduo que por lá andava a nadar.



Curral das Freiras. Segundo reza a história, quando os piratas se aproximavam da ilha era para aqui que as freiras fugiam, no centro da ilha rodeado de montanhas e quase inacessível.



Vista para a Ponta de S. Lourenço. Este pequeno estreito de terra foi das coisas que mais gostei de visitar, é mesmo muito bonito. Contudo apressem-se a ir visitar porque já está a começar a ficar ameaçado pelo betão, está em construção um resort tamanho XL por aquelas bandas.



"Um postal" da costa norte da ponta de S. Lorenço. Bela caminhada que se fez, com paisagens impressionantes e de grande beleza. Só foi pena a caminhada ter sido tão curta e, para os mais utópicos, não se ter visto "um lobo marinho a dizer adeus com os bigodes"



Pico do Areeiro, um passeio acima das nuvens, uma experiência indescritível e inolvidável. Só tenho pena de não ter feito a pequena caminhada de 7 km que nos levava aos restantes picos que vemos acima das nuvens.



Porto Moniz e as suas belas piscinas naturais. A que se vê na foto é do hotel, mas também as há públicas e igualmente catitas. Foi pena a época do ano não ter sido a mais favorável, caso contrário saberia dizer se a água "estava boa de sal".



A gastronomia madeirense. Deliciem-se com a imagem que o meu estômago deliciou-se com as protagonistas dela. Para além das lapas (que até já tinha provado no continente!) devo chamar a atenção para o bolo do caco que é "de comer e chorar por mais" e foi responsável pelos milhares de gramas que acrescentei à minha massa corporal. Aliás, impunha-se aqui uma foto do "Prego especial em bolo do caco" que por 3 vezes comi num snack-bar todo janota, infelizmente esse delicioso repasto não ficou retratado para a posteridade (querida sherpa agradece-se uma foto dessa iguaria!).




Paúl da Serra, uma paisagem digna de (algumas cenas de) LOTR. O chato consegue os seus intentos e lá fomos até ao planalto da ilha da Madeira, onde encontramos umas vaquinhas a pastar e um frio de rachar. Para quem não sabe é comum esta zona ter neve e só muito raramente não está envolta em nevoeiro.





Aqui fica este resumo fotográfico, muito breve, pois muito mais haveria para mostrar e contar sobre a interessantíssima e recomendável ilha da Madeira que, como destino de férias está aprovada.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Crónicas de um voo para a Madeira

6h30 - Chegada ao T2. Bem cedinho, mais ou menos 45 min. antes do necessário. Entidade parental sonolenta mas satisfeita, dever cumprido, não há nada como ser hiper-previdente e chegar hiper-adiantado.
Que tal um café? Eu não bebo mas tudo bem, serve para acompanhar a conversa.

Altura de despedidas e de voltar ao carro para apanhar a trouxa.
ALERTA: Polícia à vista e de volta da viatura, qual abutre aos círculos sobre a carcaça.

Parece que é proibido imobilizar a viatura naquele estacionamento (para que servirá aquele parque de estacionamento!?!). Ok, no T2 carro não estaciona, despeja e segue viagem (perdem os srs. dos cafés!).
Agente da autoridade: Pois não se pode parar aqui.
Entidade Parental: Desculpe sr. guarda, não sabia, como não havia mais nenhum sítio onde parar achei que era aqui que se podia estacionar.
Agente da autoridade: pode estacionar, é um parque de estacionamento, não pode é demorar. Já aqui está há meia hora. Ainda por cima tem o selo do seguro caducado.
Entidade Parental: Olhe não sabia, não sou eu quem costuma andar com a viatura. (toca de procurar os documentos actuais.)

O polícia espera e nós desesperamos porque o papel não aparece.
Agente da autoridade: A diferença agora é entre pagar 30€ ou 500€ de multa.
Entidade Parental: (glup!!!)

Telefonema da Entidade Parental 1 (presente no T2) para a entidade parental 2 (na cama a dormir!):
Entidade Parental 1: Olha queres pagar 30 ou 500€ de multa?(bastante delicado e simpático, salva-se a objectividade)
Entidade Parental 2: (se bem conheço já não dormiu nem mais 1 seg. nessa manhã!)
Entidade Parental 1: Tens o selo do carro caducado.
Entidade Parental 2: (já se levantou e já anda tipo barata tonta pela casa.)
Entidade Parental 1: Está em casa? Mas sabes, no carro é que isso faz falta! (obrigado, capitão óbvio!)
Entidade Parental 2: (de certeza que amaldiçoou ter cabeça de alho chocho)
Entidade Parental 1: Olha agora vamos lá ver no que isto dá. Até já.

De volta ao polícia:
Agente da autoridade: Para onde vai agora?
Entidade Parental 1: Para casa sr. guarda. Vim só deixar o meu filho aqui.
Agente da autoridade: Então siga lá com calma e rectifique esta situação.

Mala fora da bagageira. Despedida apressada e toca a andar que já nos livrámos de boa.

Volto a entrar no T2. Lá está a companhia para a viagem: bonita como sempre, friorenta e gelada como é normal.

Direcção: Checkin. Uma fila pequena mas duradoura
Bagagem de porão: nenhuma
Bagagem de mão: não cabem na estrutura que indica as dimensões máximas (mas passaram!).
Cartões de embarque na mão. Não há lugares marcados e pertencemos ao grupo B de acesso ao avião.

Next stop: Detector de metais
Fiscal: Coloque todos os pertences no cesto por favor. Sr. tem líquidos aí?
Eu: sim (acho que a minha bexiga também já se queixa do mesmo!)
Fiscal: Tire da mala e coloque também no cesto s.f.f..
Eu: (esta malta é mesmo paranóica!)
Cangalhada fora da mala, o detector não apita. Tudo arrumado e inspecção passada com distinção.

Conclusão: deixaram passar uma lâmina de barbear para dentro do avião! Paranóicos mas pouco atentos.

Vai um cafézinho? Ok (que seria deste mundo sem café? na volta ninguém se sentava a conversar!).Para mim um suminho de maça.

Porta de embarque: grande manada de gente numa fila desorganizada.

Lentamente passamos, tudo em ordem, siga para o autocarro da groundforce. Autocarro à pinha, só mexem os olhinhos, pelo menos até o condutor decidir radicalizar a sua condução. Curva à direita e a maralha toda a cair para a esquerda.

Bem chocalhados chegamos ao destino: avião da Easyjet, modelo... hum, tinha asas, motores e voava. Má opção de posicionamento no autocarro, somos quase os últimos a sair de lá e a chegar ao avião.

No topo da escada nova confirmação de bilhete e a parceira de voo fica retida. A mala excede as dimensões máximas da bagagem de mão. Bolas foi preciso chegar ao 4 controlo para se aperceberem do malão que ela trazia.
Esgueiro-me para arranjar 2 lugares.

Instalo os meus pertences e olho apreensivamente para a assistente de bordo espanhola e a sua refém. Finalmente liberta-a mas de má vontade, afinal de contas foram menos 18€ para o patronato.
A ex-refém instala-se ao meu lado e resmunga por os lugares serem ao lado da asa.

Umas placas na extremidade das asas mexem, devem ser os flaps (nos filmes é sempre o que chamam às coisas das asas que mexem!).

O piloto faz a sua primeira comunicação com os passageiros. Palavras de cortesia a que ninguém presta grande atenção.
Agora é a vez da assistente de bordo, a carcereira. Inglês macarrónico e mecanizado praticamente imperceptível, do qual apenas percebi que ela se chamava Maria.
Agora uma gravação de tradução para português. Voz suave e pausada.

Em seguida assistimos à já tradicional dança dos assistentes de bordo ao som de Maria. Bem coreografada, não muito síncrone mas efectivamente bela.

O pássaro mecânico já mexe e dirige-se para a pista. Faz agora parte de uma filinha pirilau de aviões prontos a levantar:
- um Sata... levanta
... aterra um TAP.
- um TAP... levanta
- Agora nós. A máquina acelera vigorosamente, levanta as rodinhas do chão e já está. Descolámos em direcção a este.
- a filinha atrás continua: um TAP, outro TAP e finalmente um PGA.

Espreitamos pela janela, agora com "imagens do google earth" da cidade de Lisboa. Observámos o Tejo, um afluente (que penso ser o Trancão), as salinas, o estuário, a cidade desordenada e algumas praias da margem sul (do deserto portanto!).

2ª intervenção macarrónica da Maria:
Maria: ... (hã?o quê?)... (Ah ok, é qualquer coisa a ver com a comida.)
Estava certo, aí vêm os carrinhos repletos de iguarias bem vulgares a preços muito invulgares.
O João Pestana aparece de soslaio e os ouvidos estalam de descontentamento; a ex-refém agarra-se às revistas grátis.

Os assistentes de bordo, quais formigas num carreiro, andam rapidamente para trás e para a frente. De saco na mão um pede a "basura".
Os ouvidos estalam.

Nova intervenção, desta vez de um colega da Maria, igualmente macarrónica:
Colega da Maria:... comprar... fancas (hã? comprar o quê?)
Calma! Agora ele vai explicar em português ou melhor, vai arranhar qualquer coisa na língua de Camões.
Valeu o esforço e deu para perceber que "fancas" são algo do género de raspadinhas, que naquele caso tinham também um propósito de beneficência (ou não, mas foi o que percebi!).

As formigas agitam-se no seu carreiro e a maralha junta-se-lhe num frenesim de "vontadinha". Os olhos piscam sonolentos.

Maria de novo agarrada ao microfone (bolas, ninguém vai dormir neste voo!):
Maria: ... gift shop... "toyis" for the little ones... "acept" Euros... thank you very much!
Já se vai apanhando alguma coisa, mas de mim se há coisa que não apanham é euros.

O joão pestana não me chama só a mim. Um ombro e braço roubados em troca de um beijo. Não foi mau mas da próxima talvez dê para negociar melhor a quantidade da contrapartida.
Os ouvidos serenam; fecho os olhos.

Nova comunicação do piloto:
Comandante: bla, bla, bla, bla
Importante a reter: aterramos dentro de 30 min. Os olhos voltam a ceder.

Olho para o WC e espero a minha oportunidade de pacificar a bexiga e dar cabo da "vontadinha". Está livre, aqui vou eu.
Um tudo nada apertado... PIM!!! Acende-se a luz de apertar os cintos. Boa, vamos aterrar e eu agarrado à pia.
Bexiga satisfeita dirijo-me ao lugar. Lugar ao lado vazio, há mais alguém que foi apanhado com as calças na mão pelo PIM!!!

Instalo-me, aperto o cinto e preparo-me para avistar a ilha. A coleguinha de voo chega.
Os meus ouvidos começam novamente a rezingar, ou seja, estamos a descer e bem.
As formigas aumentam o ritmo e ultimam pormenores.

Ilha à vista. Passamos por cima da Ponta de S. Lourenço, mais ou menos em direcção à baía do Funchal. Uma voltinha e estamos alinhados para aterrar.
Entretanto já tivemos o prazer de ver o aeroporto do Funchal e a sua magnífica proximidade com o mar.
Os ouvidos também aumentam o ritmo.

O pássaro até aqui tão sereno agita-se; as asas abanam, a cauda abana, todo ele oscila. A voltinha revela-se preocupantemente atribulada e pouco reconfortante dadas as condições da pista.
Agora já em direcção ao aeroporto a agitação diminui, mas o frio na barriga não.

A ave atira-se à pista, não há formigas no carreiro, toca no chão, os ouvidos estalam, sente-se uma forte e brusca travagem, o avião abranda até que se imobiliza completamente. A multidão aliviada sorri (pelo menos falo por mim!).

O comandante agradece a nossa preferência pela sua companhia aérea e deseja-nos uma boa estadia.
A maralha agradece ao comandante, ao piloto, à Maria, ao pássaro, aos colegas da Maria, a todos menos ao vento que não quis colaborar com o sossego da viagem.
Os meus ouvidos amaldiçoam-me.

Aguardamos um pouco para que uma parte da turba abandone a gentil ave que nos transportou; recolhemos os tarecos; cumprimentamos a Maria; descemos a escada e pisamos o magnífico solo madeirense, terra de Sua Alteza Dr. Alberto João Jardim.

O sol queima-nos a cara e aquece-nos o corpo; sol não falta, veremos o que mais tem esta ilha para oferecer!

sábado, 29 de novembro de 2008

Madagascar: Escape 2 Africa

"I like to move it, move it!"
"He likes to move it move it!"
"We like to move it, move it!"
And I liked this movie, movie!


Ora aqui está mais uma pérola para a criançada (e não só!) nesta quadra natalícia.


O filme começa mais ou menos onde o outro terminou, em Madagáscar, e depois leva-nos até África onde os nossos 4 viajantes (ao quais se juntaram ainda 2 lémures-penduras e 4 pinguins-pilotos) vão entrar em contacto com os seus conterrâneos selvagens.

Como sidekick do filme temos ainda um reencontro espectacular entre a velhota e o Alex.


Uma história que causa boa disposição em qualquer espectador, mas cujo público alvo são essencialmente as crianças pela simplicidade do enredo. Apesar desta simplicidade, para os mais atentos será possível perceber algumas imagens de simpática "ferroada" na civilização humana.

Recomendo o visionamento (por exemplo a seguir ao Trade ou ao Blindness!) pois leva a umas boas gargalhadas, pelo menos a quem ainda tem a sua criança interior bem viva.



Madagascar: Escape 2 Africa - Eric Darnell & Tom McGrath (2008)

Cinemateca Portuguesa

Um dia destes, a convite do amigo Paulo (de quem já falei neste blog!) tive o imenso prazer de visitar pela primeira vez a Cinemateca portuguesa.

Lamentavelmente foi há noite e com pouquíssimo tempo. Ainda assim posso dizer que o espaço me agradou, que o achei acolhedor e catita e, como tal, pretendo lá voltar em breve com tempo para um chá no café que lá existe e quem sabe até com dinheiro para comprar algo na "livraria cinéfila" que por lá conheci.

A ocasião foi aproveitada para visionarmos um filme de John Carpenter: "Vampires".

Esta película segue a onda vampiresca de "From Dusk Till Dawn" e, conta claro com litros e litros de sangue.

O filme não é nada de especial mas valeu a pena conhecer a cinemateca.


Vampires - John Carpenter (1998)


P.S.: Obrigado pelo convite amigo Poli.

Body of Lies

Um filme de malta desconfiada que aborda a guerra no médio oriente e um pouco de toda a problemática cultural e religiosa.

Filme bom mas banal que vive essencialmente das duas estrelas do elenco de actores:
Leonardo DiCaprio e Russell Crowe.


Um DiCaprio em boa forma (tal como em
Blood Diamond) mostra que é um actor competente, cujas prestações raramente desiludem mas que ultimamente também não deslumbram.


Um Crowe versão badocha interpreta uma personagem cuja profundidade e dificuldade de encarnar ficam um pouco aquém das suas capacidades, um pouco como em
American Gangster e tendo em conta o que fez em A Beautiful Mind.


Uma cena a registar, a da tentativa de aperto de mão entre
Roger Ferris (DiCaprio) e Aisha (Golshifteh Farahani). Apenas um pormenor mas um promenor catita que deixa patente a diferença entre culturas.



Body of Lies - Ridley Scott (2008)

Blindness

"Ensaio sobre a Cegueira" é um filme perturbador que de certa forma até poderia ser qualificado como de terror.
Tem partes absolutamente dantescas que assustarão e chocarão o indivíduo mais empedernido... a não ser aqueles que são desprovidos de qualquer ética ou valores humanos.

Filme artisticamente muito bom e, segundo li, muito fiel à obra, inclusivamente de acordo com José Saramago. Confesso que ainda não li o livro e que não o pretendo fazer, pelo menos para já... acho que preciso de envelhecer para ter tempo, maturidade e paciência para ler algo deste Sr.

Os actores estão muito bem (só notei uma cena mal amanhada!), com destaque para Julianne Moore e Mark Ruffalo (Gael García Bernal, actor de quem gosto bastante, tem uma cena hilariante à Steve Wonder que apesar de sair um pouco da onda do filme foi muito divertida).

Esta película revelou-se algo polémica. Não foi bem aceite nos EUA (o que por si só não significa nada) e, mais engraçado que isso, é que lhe foram feitas criticas muito díspares, algumas muito simpáticas, outras muito ferozes e outras muito idiotas.
Debrucemo-nos sobre estas últimas que no mínimo têm o condão de nos divertir.

Ora, assumir que as tendências políticas do autor fazem com que esta obra não tenha qualquer valor parece-me, no mínimo, obtuso; mas, achar que nenhum estado trataria os seus cidadãos como é retratado no filme ou que, as pessoas do planeta terra não ficam bem retratadas pelos personagens é simplesmente palerma (ou então existe um mundo paralelo ao qual eu não tenho acesso nem conheço! sempre gostei desta teoria!).

Enfim, tudo é possível e, felizmente, cada um diz o que quer e pensa mas, o mundo em que vivo é mesmo aquele, "esculpido e escarrado"!


Blindness - Fernando Meirelles (2008)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Crónicas de uma viagem a Vila Real

A camioneta chega, é o 50. Mala arrumada, um beijo de despedida e entro na viatura. Procuro o lugar 32; em cheio, é mesmo o lugar que pretendia, logo atrás da porta traseira, aquele que tem mais espaço para a tralha. Ninguém ao lado, melhor ainda.
Um adeus carinhoso e aqui vou eu.

Procuro um dos livros que me acompanham. Banda desenhada, bom livro mas não chegou ao Km 100.

Baixam os LCD's. Óptimo temos filme.
Charlot!? Ok, é porreiro mas será o mais adequado?
Alguém discorda; portátil ligado, outro filme para ver. American Pie Presents Beta House. Opção interessante, pelo menos até chegarmos a uma cena mais quente. Foi impressão minha ou o cabelo grisalho da Sra. sentada no par de bancos ao dos jovens que apreciavam a cena ficou arrepiado?

Voltando ao Charlot , até teria sido boa opção não tivesse isso tido um efeito soporífero em mim.

A "siesta" foi retemperadora mas curta; não deu para babar o casaco mas foi suficiente para causar dor no pescoço.

Charlot continua... e eu de volta aos livros, agora de texto corrido e contemporâneo, "Entre Les murs"...
Telefonema do casal do banco de trás:
Sra. - INTÓN FILHA! TA TUDO BEM-NHE?
- ...
Sra. - UOH QUERIDA, TÁMUS QUASE A CHEGAR!
- ...
Sra. - SIM-NHE! TÁMUS QUASE A CHEGAR!

Ah que belo sotaque nortenho, que bem que soa ao tímpano, só é pena o volume estar avariado e infelizmente quase no máximo. Todo o autocarro está a par do telefonema.

Charlot prossegue mudo e agitado...
Mais umas páginas volvidas e o autocarro entra numa estação de serviço. Ah, a bexiga agradece e o estômago rejubila, mas... o autocarro arranca de novo!
Saiu um engravatado, entrou outro e o resto que se aguente.

Que tal uma mensagem para uma moça querida a quem devo um obrigado pela boleia? Até aproveito para contar...
Sra. - TOU, TOU SIM-NHE
- ...
Sra. - INTÓM COMO BAI ISSO?
- ...
Sra. - TÁMUS QUASE A CHEGAR.
- ...
Sra. - FALA AQUI CO MEU HÓME?
- ...
Sr. - TOU, TUDO BEM-NHE?
- ...
Sr. - HÃ!!! O QUÊÊ?
- ...
Sr. - jÁ TÁS NO PUORTO?
Sra. - ÓH HÓME, CLARO QUE JÁ LÁ TÁ!...

Delicioso sotaque, volume ainda avariado!

Mensagem concluída, enviada. Aguarda-se resposta.

De volta ao livro; Charlot oficialmente em loop!
Auto-estrada em obras, Porto à "vista"...
Sra. - TOU, TOU SIM.
- ...
Sra. - FOI?
- ...
Sra. - QUEM-NHE FOI QUE TE ARRANJOU? FOI O FÁBIO?
- ...
Sra. - HÃ!? FOI O FÁBIO?

Recolhem-se os LCD's, estamos a chegar à invicta; inquieta-se a maralha nos assentos.

Não sei por onde andamos na cidade mas os prédios são antigos e a traça interessante.

Garagem atlântico. É aqui que vamos parar? Bolas, ainda bem que o autocarro está em forma, foi preciso cá uma ginástica para ele caber.
A maralha arruma as trouxas.

Portas abertas, um fio de gente a sair. Bem se calhar também fazia alguma coisa pela bexiga e estômago que trago comigo.
Mensagem não respondida.

Dirijo-me ao condutor para saber o tempo de paragem. Ocupado!
Conversa com casal de asiáticos - pelos jeitos japoneses! - de road-book na mão:
Asiat. - Sau Bento?
Cond. - NÃO! BATALHA! - outro com o volume no máximo
Asiat. - Aaaaa... - olhando para o livrinho
Cond. - BA-TA-LHA! - ainda mais alto!

Bolas entre não perceber o idioma e ser surdo há claras diferenças! Indicador no mapa, problema resolvido. Agora eu
- Qual é o tempo de paragem?
- O autocarro sai ao 1/4 pás 6.
- Ah! (não foi isto que perguntei!?!?). Que horas são?
- 17h35
- Obrigado.

Olho em frente, um café. Sra. afável, sotaque bonito:
- Que deseja?
- Uma sandes de tortilha, uma merenda folheada e uma cola
- 3,30€
- Ta certo, obrigado

A merenda nem aqueceu lugar, o estômago agradece.

Casa-de-banho: alívio para a bexiga, náusea para o estômago.

De volta ao autocarro, pertences todos no lugar; receios infundados, é tudo gente séria.
Mensagem não respondida.

Ataco o resto do repasto a fim de acalmar o estômago e observo os novos passageiros.
Casal de velhotes baralhados com os n.ºs dos lugares. Decisão: sentar-se num lugar qualquer e esperar que ninguém reclame.
Mamã e bebé no banco de trás:
Mãe - Não estamos no séc. XXI
Bebé - ahaaa (palrar!)
Mãe - Isto é uma vergonha! Vamos trocar a fralda aqui não é bebé?
Bebé - (gargalhar)...

Hum... não cheira mal, foi líquido. Sorriso bonito, olhos esbugalhados, fralda mudado, cachopo feliz.

Nova ginástica para sair da garagem e aqui vamos nós rumo a Vila Real. Repasto quase terminado.

O velhote do casal dos bancos trocados vigia o condutor. A cada curva inclina-se para ver a estrada e confirmar a qualidade da condução. Temos um vigilante de condutor.
Mensagem não respondida.

No par de bancos ao lado do velhote o portátil volta a ligar-se. Desta feita não há filme, há internet-kanguru, o hi5 e as miúdas.
O vigilante não descuida a sua função, mas deita um olho para o ecrã do PC. O bebé de rabo fresco faz-se ouvir.

18h34 - Afinal há WC no autocarro!!! E está funcional. Só ao fim de 4h34 minutos de viagem percebi que o sofrimento da bexiga foi sem sentido.

O vigilante não relaxa, o bebé chora e o João Pestana chama por mim...

19h14 - Acordo com as luzes da cidade de Vila Real. Toca a arrumar os tarecos.

Chegámos. Deslizo para fora do autocarro, estico as pernas e sinto o frio da noite no rosto. Apanho as malas e dirijo-me para a pousada.


Uma palavra de apreço e agradecimento aos habitantes de Vila Real que tão bem me receberam. Gente simpática, acolhedora e prestável. Espero voltar em breve.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Trade

Ora aqui está um filme que, não sendo nada de especial, me incomodou e deixou alerta para um problema que, segundo me parece, é cada vez maior.
É bom ter consciência destas realidades e problemas, mas que foi duro ver este filme, lá isso foi!

"Tráfico, Bem-vindo à América" reflecte sobre o tráfico de pessoas (raparigas, rapazes e mulheres essencialmente) na sua maioria com um propósito sexual.

Não é um filme que prime pela originalidade, nem por um enredo brilhante mas, consegue ser incomodativo ao longo das suas 2 horas pelo carácter pouco ficcional que apresenta.


Mostra uma realidade desumana e incompreensível sobre a qual pouco sabia. Ficam os números para alertar consciências.
"Entre 50 mil a 100 mil pessoas são anualmente traficadas para os EUA"
"Cerca de 1 milhão de pessoas são mundialmente traficadas todos os anos"


Trade - Marco Kreuzpaintner (2008)

P.S.: Quando o decidirem ver tenham um bom filme de comédia pronto para ver logo a seguir porque de facto é um filme que nos deixa deprimidos.

Surf's Up

Revi este filme graças graças à vontade e capricho de uma mocita especial e ainda bem. Um retrato bem-humorado do universo surfista, mostrando por um lado a sua faceta competitiva e agressiva e, por outro a faceta mais cool e descontraída.

Apesar de ser mais um filme de animação, de não ser uma história extraordinária (é mais uma com pinguins!), esta obra é muitíssimo original pela forma como é "filmado".

Com ares de BioPic em modo behind-the-scenes, tudo foi "filmado" de câmara ao ombro, com entrevistas que vão interrompendo a história, microfones que aparecem durante as cenas e cameramens que interagem com os "actores". E não pensem que é por acaso, tudo foi minuciosamente pensado e elaborado de forma muito divertida.

Filme nomeado para os óscares de 2007, a par de Persepolis e Ratatouille, que recomendo vivamente a miúdos e graúdos.


Surf's Up - Ash Brannon & Chris Buck (2007)

Filme frânces igual a filme mau ou monótono?

Na sequência dos vários post's que fiz, sobre filmes franceses que vi recentemente, pareceu-me pertinente falar um pouco sobre o assunto em epígrafe.

Infelizmente não sou grande conhecedor em cinematografia francesa mas, a julgar pelo que tenho visto ultimamente, o cinema francês está bem e recomenda-se.

Parece-me a mim que, associar cinema francês a monotonia ou falta de qualidade, talvez seja um preconceito (cuja origem desconheço!); digo talvez, porque o meu universo de amostragem é pequeno e, ainda porque poderá ser apenas a minha percepção enviesada da realidade.

Contudo a pergunta que mais me intriga é: se as pessoas simplesmente não vêm filmes de origem francesa como podem elas opinar ou qualificar o cinema francês? É que para dizer bem ou mal eu, pelo menos devo fazer o esforço para conhecer (acho eu, se calhar não!).

Deixo então alguns exemplos de filmes franceses que vi (para além dos 5 que fazem parte dos post's deste blog) e que não vi mas que me suscitaram interesse e, como tal pretendo ver:

Le Fabuleux destin d'Amélie Poulain - Jean-Pierre Jeunet (2001) - É quase um lugar comum falar neste filme quando se fala de filmes franceses. Um grande filme que quem não viu deve ir a correr tratar desse assunto.

La Graine et le mulet - Abdel Kechiche (2007) - Belo filme que também já tive o prazer de ver. Filme com o qual me identifiquei em algumas cenas, é um filme acolhedor e com pormenores interessantes em termos sócio-culturais.

Sukkar banat - Nadine Labaki (2007) - Uma bela comédia de cabeleireiro muito original, passada no Líbano, que tive a oportunidade de ver num Nimas a transbordar de gente.

Nikita - Luc Besson (1990) - Mais um que já vi e que também gostei.

Paranoid Park - Gus Van Sant (2007) - Vi este 2 vezes, recomendo vivamente. Filme com cenas filmadas em sakates.

Léon - Luc Besson (1994) - Este ainda não vi mas parece-me que será uma magnífica experiência cinematográfica.

Indigènes - Rachid Bouchareb (2006) - Conto ver este em breve. Filme sobre soldados africanos que se alistam no exército francês para lutar contra os nazis que após a guerra são marginalizados.

Angel-A - Luc Besson (2005) - Comédia a preto e branco, com o mesmo actor principal que o filme anterior. Tentei ir vê-lo ao cinema, afinal era um erro no site e tive de aturar 2 horas de uma americanice qualquer, o que vale é que ficou o filme referenciado!

Irréversible - Gaspar Noé (2002) - Não me lembro como descobri este filme mas sei que envolve cenas de violação muito verosímeis e que decorre em ordem cronológica inversa.

Ainda em francês há sempre a triologia Astérix et Obélix para animar a pequenada.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

La Môme

Ora aqui está um filme sobre o qual é um pouco difícil estabelecer opinião.
Se gostei? sim.
É um dos filmes que ficará para a história? hum, não me parece!
Então e o óscar foi bem atribuido? sim, muito bem atribuido.
Mas vamos por partes.

Este filme é um BioPic sobre a Edith Piaf. O filme é difícil de seguir pois "saltita" entre vários períodos da vida da artista não mantendo sempre uma ordem cronológica (apesar de o fio condutor ter de facto ordem cronológica!).

Para mim, que desconhecia a vida da artista, foi uma grande surpresa a imagem da vida e da personalidade que é transmitida pelo filme. Não esperava alguém com uma vida tão complicada, com uma personalidade tão desequilibrada e desassossegada.

Quanto a Marion Cutillard, fiquei deveras impressionado, acho que a sua actuação roça a perfeição e que este desempenho servirá de exemplo para muita gente. Ela interpreta as várias fases etárias e artísticas da personagem de forma exemplar (a postura corporal, os tiques, os devaneios) não descurando em momento algum qualquer pormenor. Fiquei curioso para saber se ela também intrepretou as músicas, apesar de me parecer que não é o caso.

Lamenta-se o facto de este filme não ter tido espaço nos cinemas portugueses e ter passado directamente a DVD. Com tanta porcaria que chega às salas de cinema não havia uma salinha ou duas para por este filme?


Paris

Filme composto de muitas histórias que se cruzam e relacionam de várias formas, tendo na base um personagem que abdica de viver e passa a observar a vida dos outros.

De referir que, algumas destas histórias podiam aparecer mais, ou estar mais bem trabalhadas, ex.: o vagabundo sobre o qual nada chegamos a saber ou a história do emigrante ilegal que poderia ter sido mais desenvolvida.

Esta película conta com a participação de
Juliette Binoche, actriz cujas rugas já se vão notando mas que continua bela e elegante. Durante o filme, brinda-nos com um striptease envergonhado e atabalhoado (em concordância com a sua personagem!) mas muito interessante e capaz de deixar qualquer senhor derretido.

Filme pausado, calmo e sereno cuja primeira parte me pareceu um pouco fastidiosa, já a segunda foi bem mais interessante e envolvente. Resultado final: um filme agradável para se ver.


Paris - Cédric Klapisch (2008)

domingo, 16 de novembro de 2008

Bienvenue Chez Les Ch'tis

"Bem-vindo ao Norte" foi uma agradável surpresa e 106 minutos de grande humor e boa disposição.

Uma comédia simples que usa de forma exemplar os regionalismos e a língua francesa para nos divertir, sendo o dialecto de uma região do norte de França o principal veículo para as gargalhadas.

Apesar do enredo simples é uma comédia genuína e refrescante que me deixou com imensa vontade de conhecer "
Nord Pas de Calais" e os seus habitantes.


Este é o filme mais visto de sempre em França, detendo também o recorde de facturação na primeira semana. Infelizmente tem passado um pouco despercebido por Portugal e não há muitas salas onde o possam ver.


Bienvenue Chez Les Ch'tis - Dany Boom (2008)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

DocLisboa (Parte 3) - "The Lie of The Land"

Este foi o 2º documentário que vi no DocLisboa e aquele de que mais gostei pois levou-me a questionar aquilo que pensava ser ou não correcto.

Esta película reflecte sobre a aplicação das leis comunitárias à realidade do Reino Unido no que diz respeito a agricultura e pecuária. É um filme pungente e chocante com imagens fortes e por vezes violentas (pelo menos para quem sabe o que é ética animal!) e por isso pouco recomendável a pessoas mais impressionáveis.

A autora é completamente parcial na sua abordagem, mostrando apenas o lado dos agricultores e criadores de gado, o que me leva a pensar que uma fita com o outro lado da história seria interessante para melhor percepcionar a totalidade da problemática.

Concluindo, gostei muito deste documentário pelo agitar de consciências e convicções que proporcionou, é sempre bom quando o nosso "castelo de cartas mental" é derrubado.

The Lie of The Land
- Molly Dineen (2007)

sábado, 8 de novembro de 2008

DocLisboa (Parte 2) - "In the Land of the Cranes"

Esta pequena curta-metragem versa sobre a construção de uma mega-ponte na china que irá ligar Xangai à ilha de Chongming. A referida ilha, fica no estuário do rio Yangtze e resulta da deposição de sedimentos.

Este lugar à beira de uma cidade como Xangai é ainda uma zona agrícola e, uma das mais importantes reservas naturais do mundo. Por exemplo, serve de local de descanso e abrigo para aves que fazem migrações da sibéria e alasca para a oceânia.

Todos sabemos como funcionam as coisas na china, ninguém dos habitantes e trabalhadores sabe muito bem o que vai acontecer à ilha e muito menos ousa sequer opor-se ao que quer que seja. Mas, não fosse isto suficiente, há ainda um projecto britânico de construção de uma eco-cidade na referida ilha, que de eco(lógica) parece apenas ter o prefixo.

A autora, com a ajuda de 2 estudantes que lhe serviram de guia, mostra a ilha, os seus habitantes e as actividades essenciais que nela se desenvolvem, deixando espaço para “silencios narrativos” que nos permitem experienciar o ambiente da ilha.

Este documentário peca apenas por ser demasiado curto, 29’ não chegam para dissecar esta problemática. Contudo está muito bem conseguido, é objectivo.


In the Land of the Cranes (Lisa Hangstrand, 2008)

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

DocLisboa - Parte 1

Para os menos atentos, o DocLisboa traz até Portugal o que de melhor se faz no mundo ao nível de documentário. Mais, é o único festival de cinema em Portugal exclusivamente dedicado ao documentário.

Este certame já vai na sua 6ª edição e já se estabeleceu como um dos melhores festivais de documentários do mundo. Este evento, organizado pela Apordoc - Associação pelo Documentário, tem como principais objectivos mostrar filmes interessantes e multi-premiados, mas sobretudo dar a conhecer de forma sistemática a cinematografia de outros países. Para além disto, faz algo que para mim é ainda mais interessante e importante: promove o debate e a reflexão sobre temas contemporâneos, i.e., incita as pessoas a abrirem os horizontes e a pensarem.

Tive este ano o prazer (e também a disponibilidade!) de ir a uma sessão em que visionei 2 filmes.

Entre Les Murs

E pronto aqui está o segundo post que fiz e que o amigo Poli publicou no seu blog. A ele um grande obrigado.
“A Turma” oscila entre a ficção e o documentário mostrando-nos os mais variados problemas do ensino e a sua interacção com alguns problemas sociais.

O filme vencedor da Palma de Ouro em Cannes consegue mostrar-nos o que se passa dentro de uma sala de aula de uma forma muito crua, humana e realista e ainda de um modo tão abrangente que só pelas origens dos alunos podemos reportá-lo para a realidade francesa... tivessem eles raízes cabo-verdianas, angolanas, moçambicanas, Ucranianas, brasileiras, etc e estaríamos na presença de uma turma de uma qualquer escola em Portugal.

Tanto os alunos como o professor (François Bégaudeau – autor do livro que deu origem ao filme), não sendo actores estão soberbos. Talvez seja esse um dos segredos do filme, pessoas normais que não têm de encarnar personagens, têm apenas de ser elas próprias.

Resta dizer que a sessão a que fui -estava quase vazia! - contou com a presença de alguns professores que infelizmente não se abstiveram de comentar o filme (às vezes de forma bastante idiota!) durante toda a sessão. Conclusão: os professores quando vão ao cinema comportam-se como os seus alunos problemáticos nas salas de aula.

Entre Les Murs - Laurent Cantet (2008)
Nota: 4,5/5 ou 8,5/10

Persepolis

Este foi o primeiro post que fiz no blog do Paulo. Aqui fica o comentário que fiz a um dos melhores filmes de 2007.

Persepolis, o mundo pelos olhos de uma criança!

Uma comédia sobre tragédias, mostrando os dramas da vida de uma rapariga, igual a tantas outras neste mundo...é assim este excepcional filme de Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi. E sim, não referi propositadamente que é animação, primeiro, já todos o sabemos, segundo, acho que o filme ganhou com esse facto, e depois porque, sendo tão envolvente é algo do qual não nos damos conta durante o visionamento.

O argumento é baseado na vida de Marjane Satrapi, iraniana de nascença e cidadã europeia por opção. Esta senhora tem uma bela história de vida, atravessou uma revolução, uma guerra, uma adolescência solitária e ainda, a vivência num país teocrático muçulmano e conservador. Segundo Satrapi, este filme é um enaltecimento ao Irão e ao seu povo, no entanto, o governo deste país (que no filme faz bastante má figura!) não o encarou assim protestando junto da embaixada francesa no irão e pressionando a organização do festival de cinema de BangkoK para que o retira-se do programa.

Este filme tem a capacidade de mostrar realidades familiares (guerras, revoluções, sociedades, culturas, etc!) por perspectivas invulgares (apesar de os” olhos” serem sempre os mesmos!), proporcionando boas gargalhadas e algum enriquecimento cultural.

Os desenhos pouco coloridos de traço simplista, e portanto pouco apelativo, juntamente com o argumento autobiográfico e realista tornam esta animação pouco recomendável a crianças.

Resta-me dizer que talvez merecesse um pouco mais nos óscars não só na categoria onde esteve nomeado (e já vi os outros 2 nomeados!), como até em outras categorias.
Ide ver, ide ver!!!

Persepolis - Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi (2007)